A cortina de fumaça que cortou o céu de Nova York durante a queda das duas maiores torres do mundo no coração financeiro dos Estados Unidos marcou o dia 11 de setembro de 2001 na história mundial. Duas décadas se passaram e os atentados reivindicados pelo grupo Al Qaeda mudaram o conceito de “terrorismo” para o ocidente. Ao todo, 2.977 pessoas morreram no World Trade Center, no Pentágono e em aeronaves sequestradas. Oito delas eram crianças. A mais jovem, Christine Lee Hanson, tinha dois anos e meio e fazia uma viagem com a família para conhecer a Disney e ver parentes. A vítima mais velha foi um homem de 85 anos que viajava com a esposa para o casamento do filho. Entre oficiais do Estado, morreram 343 bombeiros, 23 policiais e 37 membros das autoridades portuárias de Nova York. Dezenove terroristas que sequestraram os aviões também morreram.
Confira, abaixo, a cronologia dos atentados do 11 de setembro de 2001:
O que causou os ataques do 11 de setembro?
O professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Instituto de Ensino e Pesquisa Universidade de São Paulo (Insper), Leandro Consentino, explica que os atentados coordenados pela Al Qaeda não tinham como foco apenas os Estados Unidos, mas também o conceito de ocidente como um todo e ocorreriam mesmo que o país estivesse sob comando de uma presidência democrata como a de Bill Clinton ou de Barack Obama. “As estacas do sistema financeiro ali são o World Trade Center, mas vamos lembrar que naquele mesmo dia eles atacaram o Pentágono e houve um avião que foi derrubado que estaria indo para Washington D.C., para a região da Casa Branca, do Capitólio, então a ideia era chamar a atenção para o complexo de defesa, para o complexo financeiro e eventualmente para o sistema político. Era uma ideia de coordenar ataques contra símbolos, símbolos que representam o ocidente, os valores ocidentais”, aponta. Segundo ele, a função geral das articulações do grupo terrorista era chamar a atenção para a jihad, guerra travada por muçulmanos extremistas contra os “inimigos do Alcorão”.
Além da intensificação das políticas de segurança no embarque em aeroportos e de uma crescente nos casos de xenofobia contra pessoas de religiões islâmicas no país, os Estados Unidos também registraram uma reviravolta nas suas relações internacionais após o 11 de setembro de 2001. A primeira foi a “guerra ao terror” anunciada por Bush no seu último pronunciamento à nação no dia dos ataques, que culminou na invasão do Afeganistão para a derrubada do Talibã no dia 7 de outubro daquele mesmo ano. “Tudo isso conduz a uma série de problemas tanto no flanco externo, do ponto de vista da legitimidade da guerra, como nos pontos de vista das crises que isso vai trazer para dentro dos Estados Unidos. Crises do ponto de vista econômico, que não é barato [fazer uma guerra], e crise do ponto de vista do que chamamos de ‘soft power’, uma dificuldade dos Estados Unidos de passarem uma influência positiva para o resto do mundo”, explica o docente. Além dos problemas internos e externos, o professor lembra que o ponto de vista mundial sobre o terrorismo também é ressignificado a partir daquela data, o que gera em outros países uma avalanche de neopopulistas eleitos com a justificativa de expulsar imigrantes e “recuperar um passado perdido” em nações.
Ao longo dos anos, o neopopulismo que avança nacionalmente e internacionalmente funciona como um dos gatilhos para a formação de um novo tipo de ameaça terrorista em países como os Estados Unidos: a doméstica. Um dos exemplos de “novos inimigos” nacionais são os extremistas que, em nome de um apoio ao republicano Donald Trump, invadiram o Capitólio do país em janeiro de 2021. “São ameaças importantes do ponto de vista da própria intolerância que nasce nos cidadãos do próprios países que estão tendo dificuldades de entender, de partilhar uma sociedade democrática. Se isso não for contido ou atenuado, podemos vir a ter problemas no futuro”, projeta. O especialista do Insper lembra que os novos tipos de terrorismo não “cancelam” as ataques contra símbolos, símbolos que representam o ocidente, os valores ocidentais que já eram problemáticas em anos anteriores. “A questão do fundamentalismo ainda é latente e está por aí com alguns países que voltam a trazer os fundamentalistas para o centro do poder. O próprio Afeganistão é um exemplo disso. Então não dá para dizer que este perigo não mais exista, ele está por aí. Ele certamente é articulado com redes internas de terrorismo”, afirma Consentino.
O democrata Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos e responsável pela operação de retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão após quase 20 anos de ocupação, afirmou em um dos seus posicionamentos durante a polêmica evacuação do país que os EUA desenvolveram técnicas suficientes para conseguir monitorar ameaças terroristas à distância, tendo como alvo não só grupos que podem ser dominados pelo Talibã, mas também fundamentalistas abrigados em outros países, como Síria e Somália. Durante a guerra declarada pela morte de quase 3.000 norte-americanos e estrangeiros nos atentados do 11 de setembro, mais de 2.300 militares estadunidenses foram mortos e outros 20 mil ficaram feridos. O Afeganistão, país atacado por abrigar os terroristas que planejaram os crimes, teve mais de 60 mil soldados mortos e mais de 100 mil civis que não sobreviveram aos anos de combate.
Jovem Pan
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