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Todo Natalense
Conforme relata o documento enviado para a Embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, em 4 de março de 1964 o “nacionalista de esquerda” e prefeito de Natal Djalma Maranhão estendia para o interior do RN o programa educacional tão revolucionário à época. O relato confirma que o programa “De pé no chão também se aprende a ler”, criado por volta de 1961 e inspirado no método Paulo Freire foi responsável pela construção de escolas, aulas de alfabetização para adultos e crianças e cursos de formação de professores. Apesar do sucesso, ele considera no documento que, de alguma forma, “o programa tem sido um instrumento de politização das massas e orientação delas em favor de Maranhão”.
PANO DE FUNDO
O pano de fundo de todo esse interesse dos americanos nas ações do prefeito da capital potiguar estava na influência dos Estados Unidos nas democracias sul-americanas, principalmente em países que os americanos consideravam haver risco de um golpe comunista. Este era o caso do Brasil, que ensaiava uma aproximação a países inimigos dos EUA, como Cuba e China.
No caso específico de Djalma Maranhão, ele era um político que queria ver sua cidade em progresso. Responsável por obras como o Palácio dos Esportes, Estação Rodoviária, Galeria de Arte, entre outras, sempre apoiando e estimulando as manifestações de arte e cultura popular da cidade. No entanto, os americanos consideravam Maranhão um risco devido a seus ideais de esquerda e sua simpatia à Revolução Cubana. Djalma não foi poupado pelo Golpe de 64.
“COM O OLHO NO GOVERNO”
Prefeito Djalma Maranhão prestigiando festa popular
O documento continua relatando que na semana anterior mais de uma dúzia de prefeitos se encontraram em Natal, a pedido do prefeito de São Vicente, Raimundo Ferreira de Almeida, e organizaram a Frente Municipalista da Educação Popular, que iria incorporar mais de 40 prefeitos do interior que assinaram acordos com o programa lançado por Maranhão.
Em um comentário (ou crítica) ao final do texto, a mensagem contida no AIRGRAM dizia que o programa de Djalma Maranhão era um sucesso, politicamente falando, e estava aumentando notavelmente a popularidade do prefeito, que estaria “com um olho no Governo em 1965”, cuidando de espalhar sua imagem Estado adentro e que a Frente Popular seria uma excelente oportunidade para suas pretensões políticas.
Curiosamente, a História relata que poucos dias após esta mensagem ser escrita o Golpe Militar – entre o dia 31 de março e 1º de abril de 64 – azedou de uma só vez o programa de Djalma Maranhão que foi responsável pela alfabetização de milhares de natalenses na década de 60. Com o Golpe de Estado, Maranhão foi deposto da Prefeitura e teve seu mandato cassado, ficando preso em quartéis do Exército em Natal, na ilha de Fernando de Noronha e no Recife.
DO EXÍLIO PARA A HISTÓRIA
Por força de um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, em dezembro de 1964 Djalma foi liberto da prisão e asilou-se na Embaixada do Uruguai. Morreu no exílio, aos 56 anos de idade e seus restos mortais repousam no Cemitério do Alecrim.
A vontade política de Maranhão e os investimentos em educação poderiam ter mudado a realidade do povo potiguar, mas seus planos foram interrompidos e os potiguares perderam uma educação que poderia ter reflexos até hoje no desenvolvimento do Rio Grande do Norte.
Djalma Maranhão deixou um profundo legado na educação e sua ausência deixou um profundo vácuo na história. Com uma visão futurista, procurou, em plena década de 60, educar a sociedade potiguar, pois entendia o valor da educação para o presente e futuro. Infelizmente seu programa foi interrompido e a impressão que se tem é que até hoje não surgiram novos “Djlamas”, que se interessassem pela educação, desde a base, e a tivessem como primordial para o desenvolvimento de um povo.
Clique AQUI e veja o AIRGRAM em PDF
Se você quer saber mais sobre o programa de Djalma Maranhão assista a este documentário produzido na época. O vídeo traz imagens incríveis de uma Natal pacata, com casebres à beira-mar e pessoas empenhadas em aprender a ler.
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